segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Perfume para Ouvidos

O processo de Intercâmbio e Residência "Interações Cênicas", que tem o apoio Institucional do Fundo Estadual de Cultura de Goiás, está realizando uma montagem de uma pesquisa sobre a culturalidade goiana, buscando descobrir elementos das raízes culturais de nosso estado que nos ajuda a compreender e percebe o modo de ser e pensar goiano.


A Oops!.. propôs este Intercâmbio e Residência ao Trupicão no exato momento em que a Cia. tem participado de Festivais por toda a parte do país e também alçando vôos internacionais, e na hora de mergulhar em si mesmo, descobrimos um universo muito grande, infinito, que comunica-se com as culturas das diversas partes. Que se comunica com cada célula de nossos corpos.

No primeiro momento, o objetivo era partir da obra clássica, da dramaturgia universal de Shakespeare, através da obra Romeu e Julieta. Queríamos ser "universais". Mas descobrimos que nada é mais universal do que ser o que se É. O Teatro É. E neste mergulho na "goianidade", revisitamos cada momento de nossas vidas, de nossa ancestralidade, de nossa identidade. E talvez nesta interação, a palavra chave seja justamente esta: Identidade.

Identificar-se em si, encontrar-se com as raízes da tradição das manifestações culturais populares, com a vocalidade regional, com os cantos da Folia, com a Fé das festas sagradas e profanas, com a corporeidade e o ritmo das batidas do sertanejo, das tropas e boiadas, do olhar desconfiado do matuto do interior. Identificar-se na Ação física Stanislavskiana, na Crueldade Artaudiana, encontrar-se nas métricas de cada Partitura vocal, corporal e musical. Deslizar nas curvas da Viola, suspirando no fole da sanfona. Em cada "R" retroflexo encontrar-se com as vozes dos antepassados. Do Geraldinho aos Mudras Indianos, perfumando nossos ouvidos ao som da Arruda com Alecrim.

A criação da dramaturgia inédita, supervisionada e desenvolvida por Sandro Freitas, diretor do Trupicão, nos evidencia cada Julieta e Romeu perdidos nos sertões e nas matas de árvores tortas do nosso cerrado, personificados neste processo em Mariquinha e Zezinho. No Amor, que é e sempre será a língua universal de tudo que vive. Na dor, que iguala tudo.

Na música, coordenada por Lino Calaça, descobrimos um novo e difícil desafio, mas que fortalece cada ação cênica nossa como atores. na disciplina e na simbiose de sentir o instrumento, de exercitar o ouvir e perceber. Perceber-se a si mesmo, ao outro, aos outros instrumentos, e à música sempre onipresente. Ouvir as lamúrias das Modas de Viola incessantemente, tornar-se cúmplice de cada lamento, de cada saudação à mãe Terra, à terra, à força poderosa da Natureza. E na força da natureza, entender a própria natureza, e se arriscar a ser natureza, e então CRIAR!

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