Diários

Nesta página, estão disponíveis as postagens referentes aos diários, relatos, textos e vídeos criados pelos integrantes do projeto, referentes ao processo de interação, intercâmbio e criação cênica. Basta rolar a página para baixo e conhecer um pouco mais dos nossos bastidores, por meio do olhar sensível dos artistas participantes.

Das Conexões e Interações - Parte 1 
Nesta primeira parte, os artistas descrevem, de maneira poética, imagética ou narrativa, suas relações com o processo de criação, tendo, como base, a relação pessoal com suas raízes culturais (todos os envolvidos são goianos).

Diário de Sol Silveira: 
(Da relação com as raízes)

A Terra
A força da terra
Enraizada em mim junto com meu retroflexo
Raios de brilhante
Meu Cerrado “a Majestade o sabiá”!
Esse mundo Sou Eu!
Cercado com “sinfonia de pardais”!
Obrigada por ser fruto de seu fruto,
Terra fértil, sagrada, Divina (Vovó)
Obrigada Vovó, por eu ser fruto do seu fruto
Raiz em mim!
Terra Santa
Sotaque sofrido de tanto carregar o peso da terra, a mãe sagrada...
O gemido da sanfona desce com as lágrimas amargas!
O centro de luz, precioso.
O sangue do país escorre em teu solo...
Vermelho sangue, abençoado, que alimenta a lamentação da terra, chorona!
Escorre em seus rios frios
Precioso! Hino Sagrado
Benze o choro da terra
O que que vc tá achando do Cerrado? Seu Calango!
“Terra que água não lava!”

Diário de Sol Silveira: 
(Da relação com o processo) 

Mariquinha e Zezinho
Com olhar desconfiado, ele avistou a menina
Era princesa
Intocável
Parecia um sonho
Era Mariquinha, a menina princesa do palácio no fim da rua
Quase sem acreditar, ele respondeu:
Sou Zezinho... Seu vizinho!
Ele não conseguia encarar os olhos da menina
Jabuticaba
Redemoinho
Tinha medo de tamanha delicadeza
Algodão doce!
Sou filho do sapateiro!
Seus olhos ficaram curiosos
Suas mãos geladas, respiração ofegante...
Frio frio
Estava maltrapilho, com a barriga vazia que até fazia eco
Imóvel ele ficou
O tempo parou... ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
Gira gira gira
Roda gigante
Leva esse momento pra um lugarzinho lá no alto, onde ninguém possa alcançar.
Uma lágrima intrometida correu junto com um grito esmagador:
“Sou rico de coração!”

Diário de Thamis Rates: 
(Da relação com as raízes) 
Quando eu era pequena, meu avô me levava para a fazenda. Lá, eu brincava, corria e era feliz. Quando fui para a cidade, eu apaguei dentro de mim o jeito de ser feliz, criei outras formas pra me alegrar, fui me esquecendo daquela garotinha da roça. Eu não sou a única: os goianos, os urbanos goianos, esqueceram suas raízes, da ancestralidade daqueles que já foram criados numa fazenda. Do tempo onde se podia ser feliz entre os pastos, animais e pessoas, em paz e harmonia com a natureza. Hoje, esquecemos nossas raízes, de onde viemos. Nós estamos apagando do nosso corpo, da nossa memória (emotiva e imagética), o jeito de falar, de andar e de sentir ser. Parece até que queremos ser, sei lá, paulistas, mineiros, baianos, europeus ou gaúchos. Assim, a cultura goiana vai, aos poucos, sumindo das nossas vidas. A única forma de a cultura goiana voltar a ser forte vai ser quando assumirmos nossas memórias, e que o jeito de falar porta é assim: “Porrrrta”, assumindo nossa identidade, lembrando das raízes, para construir uma identidade.

Diário de Thamis Rates: 
(Da relação com o processo) 

Grupo Trupicão... Este nome não me era estranho. Já tinha visto algumas peças, mas nunca havia conversado com ninguém do Grupo. Então, quando eu soube que a Oops!.. faria um intercâmbio com o Trupicão, eu fiquei com medo, ansiosa e preocupada. Será que eles vão gostar de mim? Aí, numa bela tarde, conheço “Ele”, um cara chamado Sandro Freitas. Tudo foi tranquilo: o início da leitura do texto, os treinamentos, os pêndulos, os mudras e as conversas sobre o espetáculo. Esta experiência do intercâmbio fez com que eu ampliasse a minha forma de atuar, mostrando novas formas de direção. Estamos no início e já chorei horrores, já inventei mil maneiras de sair do projeto, mas, no final das contas, eu também quero ganhar uma “estrela”.

Outro ponto é a Música. Nunca vou esquecer quando o Lino falou naquele tom sério: “O ritmo é tudo”. É, foi neste momento, que eu pensei: “Puta que pariu, fodeu!”. Não sou uma pessoa que tem ritmo, nunca aprendi a tocar um instrumento. Mas foi proposto pra eu aprender a tocar o ukulelê, um instrumento musical composto por 4 cordas. Bom, no começo, foi lindo, eu tocando (mal), depois, foi ficando feio. Lembra-se do ritmo? Ele apareceu e eu me ferrei. Não consegui tocar nenhuma música, não vou mentir, e me senti muito mal, porque eu não queria decepcionar o Lino e nem o resto do Grupo. Eu sei que, no começo, eles ficaram chateados, mas, no fim, foi tudo maravilhoso. Não foi. Eu fui apresentada à meia-lua e aos instrumentos de percussão, aí, você pensa que melhorou. Não. Mas eu estou aqui tentado aprender, porque eu quero que o espetáculo seja o melhor possível no quesito Música e que eu possa superar esta falta de ritmo que existe em mim.



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